É evidente que o Brasil está passando por um grave problema de burrice generalizada. É muito mais grave do que a simples ignorância. A ignorância pode ser tratada com informação, conhecimento. A ignorância é não saber, mas à partir do momento que o ignorante adquire o conhecimento ou informação que lhe faltava já está curado. O indivíduo burro não. Mesmo quando ele tem todas as informações e conhecimento nas mãos, é incapaz de pensar e chegar a conclusões sozinho. Ele é adestrado, quase que lobotomizado. O indivíduo burro serve apenas como pendrive: sua utilidade é receber dados e repassá-los.

Sempre que surge um “assunto do momento” é a hora perfeita para identificar esse tipo de indivíduo. Ele tem um certo sentimentalismo falso. Não é que ele realmente sinta ou se importe com alguma coisa, mas ele é fortemente influenciado por reações de raiva, revolta e tende a reproduzi-las. É um virus que vai contagiando em cadeia os indivíduos burros, que não usam argumento lógicos para criticar o outro lado, apenas copiam e colam o que ouviram/leram de uma certa fonte juntamente com sua forma de expressão dramática e violenta. Eles não analizam o conteúdo, mas a repercussão do fato. A capacidade de compreensão do que está acontecendo por um indivíduo burro não passa muito disso: “um grupo A coitadinho se sentiu ofendido, desmerecido, humilhado pelo grupo B. Logo o grupo B é mau, eu odeio o grupo B, eu preciso destruir o grupo B.”

Os últimos exemplos mais evidentes foram a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil através do Mais Médicos e o processo das piadas de Danilo Gentili e Marcelo Mansfield por uma doadora de leite.

Em ambos os casos dá pra notar que a raíz da revolta não está em um grupo de indivídios em si, mas na própria maneira que a informação é transmitida na mídia. A notícia já vem como em um formato de tabela, existem os campos “agressor”, “agredido” e “conclusão”. O que o jornalista faz é simplesmente preenche esses espaços, da maneira que for conveniente.

As notícias dos principais jornais logo que os primeiros médicos cubanos vieram foram todas regadas de drama e sensacionalismo. Existia o grupo dos agredidos: os pobrezinhos NEGROS dos médicos cubanos, e o grupo dos agressores: os riquinhos BRANCOS médicos brasileiros, e a conclusão “óbvia”: médicos brasileiros são racistas e não querem trabalhar.

A notícia sendo apresentada dessa forma trouxe revolta a indivíduos burros que não pensaram nem ao menos em questionar POR QUE um bando de médicos NORDESTINOS (a propósito) iriam se juntar para xingar outros médicos exclusivamente por motivos raciais (como foi mostrado). Qualquer um que lesse uma notícia sem cabimento dessas, pensaria que ela não mostra nenhuma verdade ou que mostra uma parte da verdade que teve um direcionamento de como foi apresentada. Mas o indivíduo burro não se questiona, ele age por impulso, pela raiva, pela revolta – sua e dos outros. Ele quer fazer parte do grupo, ele vê várias pessoas xingando médicos brasileiros e xinga também – tal qual uma criança faz para se enturmar.

O processo contra piadas feitas no Agora É Tarde, programa de HUMOR, pelos COMEDIANTES Danilo Gentili e Marcelo Mansfield também é um grande exemplo disso. NINGUÉM se ofendeu com as piada quando elas foram feitas. Não havia UM comentário sequer dizendo que elas eram desrespeitosas. Um mês depois quando a doadora saiu em jornais dizendo que estava processando, uma massa de indivíduos burros surgiu para defendê-la. Mais uma vez as notícias saíram no padrão “agredido”, “agressor” e “conclusão”, o formato certo para sensibilizar. É claro que ninguém se perguntou: se ela estava tão incomodada por ter ouvido umas piadinhas na sua cidade do interior, por que não se incomoda de estar virando chacota no país todo? (Ninguém se lembrava da piada, ou de quem era ela até que ela saiu no jornal dizendo que estava processando) As piadas de alguma forma desmereceram o trabalho dela como doadora ou apenas fizeram uma simples alusão à quantidade de leite e ao tamanho dos seios? Se fosse o caso e ela tem vergonha do tamanho dos peitos, por que disponibilizou para um jornal uma foto deles quase que descobertos por completo? Se ela tem vergonha da quantidade de leite que consegue produzir por que ela quis entrar por Guinness por esse mérito? As piadas foram feitas com informações que ela mesmo forneceu de livre e espontânea vontade para jornais ou foram tomadas através de invasão da sua privacidade sem seu consentimento? E a pergunta mais pertinente que nenhum indivíduo burro se questionou: por acaso fazer piada é ilegal, porra?

Não, não é ilegal:

Art. 142 – Não constituem injúria ou difamação punível:

I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;

obs.dji.grau.4: Exercício Regular do Direito

IIa opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

“Não será crime contra a honra se o agente desejava simplesmente fazer uma piada (animus jocandi), vontade de repreender (animus corrigendi) ou qualquer outro desejo que não o de ofender.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Crimes_contra_a_honra)

É óbvio que não ouve intenção de injuriar ou difamar. A intenção de uma piada é fazer alguém rir através de uma distorção cômica. A piada é exatamente engraçada porque ela distorce a realidade, isso não é injúria, isso é o que uma piada é.

Mas é claro que o indivíduo burro – que na verdade nem merecia esse nome, a massa burra ou coletivo burro, porque, afinal, ele nunca anda sozinho – não sabe disso e até mesmo um trocadilho banal passa a ser um CRIME, o humorista que está fazendo seu trabalho passa a ser um CRIMINOSO. Sim, a massa burra adora usar termos dramáticos e exagerados, ela se ofende com qualquer coisa que alguém diz que é ofensivo.

A massa burra vende uma imagem de justiceiros, são os robin hoods digitais. Eles pregam o respeito e a liberdade irrestritos com algumas restrições. Eles se ofendem quando médicos chamam cubanos de “escravos”, mas tudo bem xingá-los de “racistas”, “babacas”, “elitistas”, “preguiçosos”. Eles se ofendem quando humoristas fazem umas piadas, mas tudo bem xingá-los de “machistas”, “incompetentes”, “otários”, “filhos da puta”. Eles pregam que quem se sente ofendido tenha a liberdade de processar quem o ofendeu, mas são contra a liberdade de poder fazer uma simples piada.

Eles não percebem suas contradições, afinal nunca pensaram sobre isso. Não passam de máquinas de repetição de discurso e comportamento. Cuidado para não ser mais um. E lembre-se: se você se sente muito confortável sobre o que você (acha que) pensa, se você não se sente nem um pouco acuado ao escrever em redes socais, com medo de ser atacado por moralistas da rede, então provavelmente você faz parte da massa burra.

7 thoughts on “a era do retardado mental

  1. Boquiaberta com o que acabei de ler!
    Será mesmo que pessoas se revoltando com atitudes preconceituosas são burras? Ou o verdadeiro burro é quem tenta naturalizar tais situações?
    As massas se sensibilizarem com a violência de alguns opressores em condições privilegiada agora é burrice?
    Seu texto verdadeiramente é o que chamo de defecar pelos dedos.

    1. Carol, pessoas que se revoltam com atitudes preconceituosas não são burras, de maneira nenhuma. O que falta é apenas saber distinguir o que é uma atitude preconceituosa/criminosa e o que não é. É de uma desproporção absurda dizer que um comediante que faz uma piada sobre judeus, por exemplo, é nazista. Nazista é alguém que acredita na inferioridade dos judeus e portanto quer fazer uma limpeza étnica. Consegue enxergar a desproporção entre você fazer uma piada sobre um tipo de pessoa e você querer exterminar esse tipo de pessoa da face da terra? Quando você não consegue distinguir o óbvio, sim, é burrice. Usar termos de criminosos para xingar uma pessoa que conta piada: isso sim é uma violência. Toda essa questão vai muito além de piadas, é uma questão política, cultural, social que passa despercebida aos olhos de quem não procura estudar e entender um pouco o que está acontecendo no Brasil. É uma questão muito mais profunda do que “limites do humor”. Se você se interessar, pode começar lendo isso aqui: http://www.olavodecarvalho.org/semana/111010dc.html

  2. Bem, a partir do momento que a pessoa faz piada sobre campos de concentração mesmo sabendo que milhares de pessoas morreram e sofreram com isso, ela está sim sendo conivente com atitudes nazistas, pois filhos e netos que perderam seus entes nos campos de concentração dos nazistas podem dizer o que sentiram ao ouvirem uma “piada” dessas, e foram eles que se revoltaram juntamente com as pessoas que se sensibilizaram com a imbecilidade desse apresentador. Outra coisa, os judeus até hoje ainda são recriminados no mundo e a naturalização dessas piadas inocentes só fortalecem mais o preconceito.
    O mesmo vale para os negros e os médicos cubanos. Você acha mesmo que os médicos do nordeste estavam bem intencionados com o tal protesto? Por que não fizerem protestos para os médicos Argentinos, Portugueses e Espanhóis?
    A moça que fez a doação de leite materno, eu confesso que sou umas das burras que só ficou sabendo do caso depois que saiu na mídia, até porque não assisto a estes tipos de programa e fiquei indignada assim como muitos. Como pode uma piadinha inocente comparar uma doadora que salvou muitas crianças a ejaculação de um ator de filme pornô? Piada que ridicularizou esta mulher ao ponto de ser apontada na rua, causando transtornos pra ela e sua família. Será que isso é normal mesmo?
    O que sempre houve em nosso país é a naturalização do preconceito, onde tudo vira piada, e quando a população abre os olhos pra isso, sempre aparece alguém bem intencionado ou não tentando reverter os fatos.
    Continuo discordando muito do seu texto e Olavo de Carvalho, reacionário nato, não é nem de longe uma boa dica de leitura pra mim.

    1. Você está dizendo que uma pessoa que FAZ UMA PIADA com judeus é alguém que aprova o NAZISMO? Está colocando COMEDIANTES no mesmo saco que LADRÕES, RACISTAS, TORTURADORES E ASSASSINOS? Rs…Não tenho mais o que discutir, sério.

      Você parece uma pessoa que se incomoda muito com “preconceitos”, vê injustiças e preconceitos em todos os lados, mas não demorou muito pra mostrar os seus: tem preconceito contra comédia, contra um programa de TV, contra humoristas, contra a direita, contra um filósofo do qual tenho certeza que nunca leu um livro sequer, mas já tem uma opinião formada. Prega sobre a moral e os bons costumes, mas no seu primeiro comentário diz que eu “digito merda”. Um pesos, duas medidas. A mesma hipocrisia de sempre..

  3. Concordo em muitos pontos do seu texto, Rafaella. Mas eu acho que tem certas piadas que só serve para aumentar certos estereótipos. Eu prezo muito a liberdade, mas não confundir liberdade com libertinagem, anarquismo. Por exemplo, aquele caso da universitária Mayara Petruso, Após a vitória de Dilma Rousseff no pleito realizado em 2010, postou: “Nordestisto [sic] não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”. Dois anos depois a justiça estabeleceu que ela ficasse presa por um ano, 5 meses e 15 dias. [a pena foi convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa].

    O texto da sentença da juíza do caso foi primoroso e certeiro: “pode não ser preconceituosa; aliás, acredita-se que não o seja. O problema é que fez um comentário preconceituoso. Naquele momento a acusada imputou o insucesso eleitoral (sob a ótica do seu voto) a pessoas de uma determinada origem. A palavra tem grande poder, externando um pensamento ou um sentimento e produz muito efeito, como se vê no caso em tela, em que milhares de mensagens ecoaram a frase da acusada”.

    Qual foi (é) sua opinião sobre esse caso que citei?

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