médicos cubanos no brasil

Por onde começar? Bom, acho que vou abrir o texto com o que já virou um bordão:

“É melhor um médico cubano do que nenhum!”

Concordo completamente. É melhor um médico cubano ou indiano ou de Zimbauê do que nenhum. Para mim, o problema do portunhol e da revalida são mínimos, mas uma pergunta eu gostaria que fosse respondida. Mesmo que todos os médicos cubanos trazidos fossem profissionais de alto nível e que não tivessem nenhum problema de comunicação, quando o médico cubano entregar o diagnóstico ao paciente, o doente faz o quê? Amassa numa bolinha de papel e joga na cara do médico? – Isso, claro, considerando hipoteticamente que o médico consiga dar um diagnóstico.

A vinda de médicos estrangeiros é como se o governo levasse tratamento de esgoto para todos as áreas mais remotas do Brasil, só que as pessoas continuam sem privada e papel higiênico em casa. Não adianta terem médicos, se não tem hospitais, se os hospitais que tem não tem infra-estrutura e se não tem medicamento.

Se o estado da saúde pública é lamentável nas capitais, onde os problemas são visíveis e podem ser verificados e expostos pela mídia a qualquer instante, o que dirá no interior? Em áreas indígenas?

Trazer médicos estrangeiros é simplesmente tapar o sol com a peneira. Só que, no caso, a peneira vai custar R$511 milhões.

 

“Médicas patricinhas não querem que médicos negros ocupem vagas que elas mesmas rejeitaram”

Essa foi a conclusão BRILHANTE da nossa mídia sobre a vaia pela CHEGADA de médicos cubanos no Brasil. Frases como “corredor polonês xenofóbico” não seriam tão cômicas se não tivessem saído da boca do nosso excelentíssimo ministro da saúde, Alexandre Padilha, para descrever o acontecimento.. Claro que não poderia faltar a mesma foto repetida em cada página de cada jornal com um “pobrezinho” médico negro cubano que só está aqui para ajudar sendo rodeado pelas “malvadas” médicas loirinhas brasileiras que só estavam lá para humilhá-lo. Mas a distorção absurda dos fatos deu certo! Durante toda a semana o foco se tornou o RACISMO! Médicos brasileiros xingaram médicos cubanos porque eles são NEGROS! Genial..

Recapitulando, a mídia quer que você acredite que oitenta médicos estavam tranquilamente em suas casas, fazendo seus afazeres cotidianos, quando ficaram sabendo da vinda dos médicos cubanos e pensaram “hmmm.. hoje o dia tá meio parado, e se a gente fosse lá xingar aqueles pretos?”

Sim, os médicos brasileiros chamaram os cubanos de escravos. Mas isso não tem nada a ver com o fato deles serem negros, isso tem a ver com a forma de contratação desses médicos. O Brasil vai pagar R$10.000 por cada um, ou R$21.291,66  (“O ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM) fez as contas de quanto custa cada médico cubano: o governo gastará R$ 511 milhões para 4 mil médicos cubanos por seis meses, de setembro de 2013 a fevereiro de 2014, segundo o Ministério da Saúde. Então, serão R$ 21.291,66 mensais, e não R$ 10 mil, como foi anunciado”.) mas 60% desse valor não vai para o médico, vai para o governo de Cuba. Logo, estamos financiando uma ditadura. Simples.

É claro que jogar a culpa nos médicos brasileiros é a saída mais fácil. “Nossos médicos metidos que não querem atender nossa população carente, mas os heróis cubanos aceitaram essa difícil tarefa.”

Sabe a real de por que os médicos brasileiros não foram cobrir essas áreas carentes? Porque eles tiveram escolha. E isso eu já não posso falar dos médicos cubanos.

Quem está hostilizando a atitude dos nossos médicos com certeza nunca entrou num SUS. Nem eu. Mas eu sei que se eu fosse médica eu com certeza eu não ia querer ir pro fim do mundo sem a mínima condição de trabalho. Abrir mão do seu conforto espontaneamente é admirável, mas negar isso não é condenável. É um bônus, não um dever. Qualidade de vida é um direito de todos. Vote em mim.

Sacanagem. Enfim. Eu queria escrever mais, mas tou com fome. Ainda bem que eu posso escolher não abrir mão de comida para escrever aqui.

Para finalizar, leiam:

http://libertatum.blogspot.com.br/2013/08/um-medico-cubano-e-melhor-do-que-nenhum.html

http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/14457-mensalao-petista-retribui-mensalao-cubano.html

http://aluizioamorim.blogspot.com.br/2013/08/medicos-cubanos-escapam-da-venezuela-e.html

Lula classifica protestos de médicos como ‘abomináveis’ http://linkis.com/oglobo.globo.com/pai/0Qn4

“É um imenso preconceito”, afirma Dilma sobre reação contra médicos cubanos http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-08-28/e-um-imenso-preconceito-afirma-dilma-sobre-reacao-contra-medicos-cubanos.html

Padilha critica hostilidade a médicos estrangeiros em Fortaleza: http://oglobo.globo.com/pais/padilha-critica-hostilidade-medicos-estrangeiros-em-fortaleza-9718288

http://www.blogdacidadania.com.br/2013/08/blog-entrevista-o-lider-do-grupo-que-vaiou-medicos-cubanos/

http://oglobo.globo.com/pais/acordo-para-trazer-cubanos-rendera-243-milhoes-opas-9722463

Não é uma ordem. Você pode escolher não me agradar e não ler. Viu como é bom?

 

 

 

 

 

 

o que o funk tem de feminista?

Ontem o programa A Liga falou sobre o mundo do funk com ênfase nas mulheres que fazem carreira nesse meio.

Todas as funkeiras – cantoras, dançarinas ou apenas fãs do gênero – entrevistadas disseram que gostam de funk porque ele faz apologia à liberdade feminina, principalmente sexual. Que a funkeira escolhe com quem, como e quando ela quer transar. Que elas podem usar roupas curtas fazendo movimentos sexuais enquanto dançam sem nenhuma opressão masculina.

Um grupo de meninas que curte funk é acompanhado a um baile. Quando o jornalista diz que fez uma enquete nas ruas e o primeiro nome que as pessoas associam à palavra funkeira é “vagabunda”, as meninas ficam revoltadas e dizem que isso é ridículo. Ora, ridículo por que? Se piranha é quem dá pra quem quer e quando quer e elas acham isso bacana, por que se ofenderam ao serem chamadas assim? Afinal, esses termos considerados já foram incorporados à cultura feminista: “Marcha das Vadias”, etc.

As meninas vão pro tal baile de carona com um “Mc”. Mc, no caso, é um maluco escroto moço que é um misto de motorista, segurança e daddy – pois paga tudo o que é consumido pelas meninas durante a noite. A troco de quê? Isso eu já não sei.

Na sequência, as meninas se gabam por serem, segundo elas, “humildes”. Não entendi, o que alguém que só frequenta mesa regada a Whisky tem de humilde? Qual a diferença entre a funkeira que anda com um cara porque ele tem carro, tem look e paga tudo e a menininha zona sul que anda com um cara porque ele tem carro, tem look e paga tudo? A diferença é que uma se finge de puta e a outra se finge de santa. Mas o que ambas querem é um Mc/Mauricinho para bancar a diversão.

Em seguida, um tal de Bonde das Justiceiras ou coisa que o valha é entrevistado. Uma das artistas afirma: “Nosso trabalho é sério, não tem nada de vulgar”. O “trabalho” delas é basicamente esfregar a xavasca na cara de desconhecidos. Mais uma vez, por que elas não querem assumir a vulgaridade do que fazem?

Segundo o dicionário, vulgar é quando alguém faz refererência explícita a sexo, quando usa palavras rudes. Esfregar-se em pessoas, no chão e em coisas me parece uma referência a sexo. A maior parte das letras de funk são rudes e usam vocabulário xulo. Logo, o funk é, sem nenhuma dúvida, vulgar. A negação do óbvio chega a ser patética.

Então, onde está a tão falada liberdade da mulher funkeira se ela não consegue nem assumir o que ela realmente é e o que ela realmente gosta? Ao meu ver, uma mulher livre assumiria que é piranha, que gosta de ser vulgar e que tem um preço. Mas em vez disso, a funkeira nega a verdade, tentando camuflá-la, cheia de “não é bem assim” e “isso é preconceito”.

Ser chamado de “viado” só é pejorativo se você não é viado ou se você acha que ser viado é uma coisa ruim. Os gays assumidos não tem nenhuma problema com o termo, tanto que gostam e se auto-intitulam assim.

Para serem símbolo da liberdade feminina, as funkeiras tem que primeiro sair do armário.

casal de amigos

Conviver com um casal de amigos é uma coisa muito perigosa. Você tem que entender que a partir do momento que eles começam a namorar, não existe “ele” e “ela”, existe um ser esquizofrênico chamado “casal”.

Para começar, repense se você gostaria de confidenciar algum segredo para apenas uma das partes, sem que a outra saiba. A partir do momento que você fala alguma coisa pra parte 1, a parte 2 automaticamente está incluída nas suas confidências. E vice e versa.

Ser amiga de um casal também te envolve em muitas brigas. Porque se um contar para você as coisas ruins que o outro faz, e você se sensibilizando pelo um e der algum conselho que favoreça somente o um, eventualmente o casal fará as pazes e o OUTRO vai odiar VOCÊ.

É também muito comum que o casal te use como pára-raios da relação. É mais fácil para eles lidarem com as dificuldades do relacionamento se, em vez de assumirem cada um a culpa do que fazem, jogarem-na nas costas de familiares e amigos que permanecem na órbita do casal. Uma das maiores táticas do casal é ele próprio te envolver nas confusões da relação. Uma vez que você fala qualquer coisa que interfira – mesmo que minimamente – em algum aspecto da vida a dois, eles te transformam na ponta do iceberg e fingem que não existe um elefante de gelo dembaixo d’água. Pronto, você vira a causa, e agora tendo quem culpar, eles podem se perdoar e fazer as pazes. Não com você.

Relatar traições é o fim da relação..de amizade. Se você ainda quer conservar amizade com sua amiga ou amigo corno, jamais conte que viu o outro com outra. Tem muita gente que não se importa ou simplesmente já desistiu desse pequeno detalhe da relação chamado fidelidade. É comum que quem traga o desconforto seja quem está apontando a traição e não quem está traindo. Assim, a parte chifruda do casal vai se livrar de todo o constrangimento se livrando de VOCÊ.

Outro aspecto importante é que apesar do casal tratar SUAS confidências como algo aberto aos dois, as confidências que eles fazem individualmente para você não podem jamais ser ditas para o outro. Então é muito importante lembrar quando eles são tratados como um, e quando eles são tratados como dois – é sempre quando for conveniente para ELES.

Chamar para sair apenas uma das partes do casal pode ser um problema. Isso acontece sempre que você chama a parte que tem o sexo oposto ao seu e a preferência sexual igual. Quando você chama para sair o sexo igual ao seu, ou o sexo oposto mas que tenha preferência sexual oposta, aí tudo bem.

É claro que existe a parte boa de ser amiga de um casal. Eles podem te dar conselhos que nunca colocaram em prática. Eles são paternais com você. Se está querendo relaxar, eles sempre arrumam programas calminhos – como morgar em frente a TV durante seis horas e meia, comer uma pizza no restaurante de idosos da cidade, etc. E mais importante, agora que eles estão juntos sua principal missão é arranjar a qualquer custo um amiguinho ou amiguinha para namorar você! Ele vão fazer isso te apresentando o amigo mais sem graça ou o primo mais burro deles. O mais importante é que invarialmente eles vão tentar te apresentar alguém que não tem absolutamente nada a ver com você. E eu tenho uma teoria sobre isso: no fundo o casal te apresenta sempre alguém que você nunca vai querer para eles não se responsabilizarem mais tarde por você estar na mesma situação merda que eles.

 

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Ontem, assistindo a alguns vídeos sobre política no youtube me deparei com uma entrevista que Enéas Carneiro deu para o Roda Viva em 1994 (eu tinha quatro anos na época). Surpresa por ter sido levada até o então palhaço do horário eleitoral da minha infância – que recentemente foi substituído pelo Tiririca – e motivada também pela saudade que sentia dessa figura quase que esquecida, resolvi assistir o programa. O que me revelou pela primeira vez quão extraordinário este homem foi – É.

[22/7/1994] Enéas Carneiro (PRONA) – Roda Viva (TV Cultura)

Embora o programa Roda Viva tenha mostrado ser apenas um jogo televiso de perguntas onde dez jornalistas tentam mostrar que são melhores que o entrevistado, um show que gasta 50 minutos arranhando a cara do convidado pra gente ver que nao tinha máscara alguma ali, ficam claras as intenções e o pensamento de Enéas.

Afinal, Enéas não era um louco! Apesar da aparência desconcertante e do falar enérgico, ele não tinha nada de realmente agressivo ou opressor. Enéas era um nerd pop: um ser inteligentíssimo de aparência extragante. Mesmo a barba parecendo ter sido tirada de uma loja de carnaval, ele não usava fantasias nem máscaras, não tinha medo de dizer o que pensava e o que ele acreditava, porque ele não estava lutando por um cargo, por poder, por riqueza ou status social, mas por um conjunto de ideias. E falava dessas de maneira clara, concisa, sem moldá-las ou podá-las ou omití-las para agradar ao público. Ideias que não conheço todas e nem todas que conheço sou a favor – não por eu ser contra, mas simplesmente por me faltarem minhas próprias ideias para ter uma opinião pró ou uma objeção. Mas ideias que de tão honestas davam medo.

Nesse caminho de tentar abrir espaço para suas ideias, Enéas perdeu colegas, esposa, dinheiro, mas se manteve leal ao que ele acreditava até o seu fim –  determinado pelo câncer em 2007.

Entretanto, não são só as ideias que me fazem admirar Enéas, mas a sua integridade e honestidade. Em um sistema político onde a maioria é prostituída, ver alguém que não compactua com isso impressiona. Não deveria ser assim, infelizmente.

Uma pena a imagem desse homem ter sido distorcida por tantos anos. A imprensa sempre quis demonizá-lo e ridicularizá-lo – isso fico explícito e evidente na entrevista acima, onde os jornalistas a todo tempo o menosprezam, querendo falar que ele quis dizer o que não disse, que ele é o que não é. Mesmo ele negando e sempre explicando com maior clareza e abertura que não seria um ditador, mas não negando que era, sim, um radical – pois queria destruir por completo a corja de incompetentes ou imbecis, como ele mesmo classificou, do nosso sistema político, que, a propósito, é um problema com o qual estamos lidando ainda mais fortemente hoje – essa foi a imagem que construíram envolta de Enéas: a de um repressor, senão a de um artista circense, bobo da corte, gremlin alucinado.

Ao meu ver, o problema da proposta de Enéas não era ela ser “de direita demais”, mas “honesta demais”, “nacionalista demais”. Ele queria “respeito demais”, “ordem demais”, “decência demais”. Imaginem, um homem que não tem conchavo com ninguém não pode ser dominado.

Mas não quero me referir a Enéas apenas como político. Ele foi médico especializado em cardiologia, matemático e físico. Só por ser estudioso já tem meu respeito. Como ele mesmo disse na entrevista do Roda Viva e se referindo ao Lula, ele não precisava usar a política como cargo, ele já tinha uma profissão que o sustentava.

Virou ófão ao nove anos e desde então começou a trabalhar para ajudar a família. Nasceu no Acre mas foi para o Rio de Janeiro estudar medicina. Menciono isso não para ser objeto de comoção, mas para ser um exemplo positivo de que é possível sair “das dificuldades” pelo esforço e o trabalho honesto em vez de pela caridade ou, por exemplo, o acaso de ter perdido um dedo, entre outros.

O acaso que me fez assistir Enéas depois de tantos anos me tocou muito o coração. Sem idolatrias, mesmo não o conhecendo tão bem para isso rs, fico feliz de poder olhar para Enéas por um novo aspecto. Sem os pré conceitos ouvidos na minha infância que o desqualificam, aliás, que os qualificam como alguém que não merece ser ouvido.

Quero terminar o post transcrevendo uma das coisas mais bonitas que já vi saindo da boca de um político brasileiro – senão a única. Na entrevista com Jô Soares em 1989, Jô pede para que Enéas termine a entrevista dando uma mensagem qualquer ao público que ele gostaria, e Enéas veio com isso:

“O dado mais importante que separa o ser humano de todos os seus irmão e primos da escala filogenética é o conhecimento. Só o conhecimento liberta o homem. Só através do conhecimento o homem é livre. E em sendo livre ele pode aspirar uma condição melhor de vida para ele e todos os seus semelhantes. Eu só consigo entender uma sociedade na qual o conhecimento seja a razão de ser precípua que o governo dá para a formação do cidadão. A minha mensagem é positiva, é de que o homem tem que saber, conhecer. Em conhecendo ele é livre. Muito obrigado a todos os meus amigos e meu nome é Enéas.”

Jô Soares entrevista Eneas 1989