academias no Rio

Hoje me matriculei pela primeira vez em uma academia no Rio. São quatro andares cheios de salas disso, salas daquilo, lanchonete, lojinha, sauna.. Subi as escadas e vi umas velhotas bronzeadas de macacão de lycra esperando uma aula começar. Resolvi entrar na sala. O professor, um velho barrigudo, colocou uma musiquinha de superação. A velhota loira mais velha de todas começou a dar uns pulinhos tipo Rocky Balboa e as outras velhas começaram a imitar – eu também. Fizemos isso por alguns minutos. Eu já estava meio cansadinha quando o professor trocou o disco pra um do Michael Jackson e disse que íamos começar a série, aí eu pensei “Graças a Deus!”
De repente todas as velhotas começaram a fazer uns agachamentos com trinta quilos com a virilha a 2cm do chão. Eu já suando mais que o Ed Motta em Realengo, quando ouço o professor gritar “Ô CARALHO! JÁ FALEI PRA ABRIR ESSA PERNA, JANDIRA!” – Fico imaginando.. será que ele fala assim com a esposa?
Com o clima um pouquinho hostil, desisti de desistir da aula e resolvi me camuflar dentro na terceira idade. Mas então o personal-militar me identifica com meu perfil nerd pálido destoando um pouco do resto do ambiente.
– Qual seu nome, filhinha?
– Rafaella.
– Flávia? – Não sei por que nunca entendem de primeira.
– Rafaella.
– Então, Rafaella, ACERTA ESSA POSTURA, PORRA! PUTA MERDA! JÁ FALEI QUE É PRA DESCER ATÉ O CHÃO!
Foi nesse momento que senti minha bunda pela primeira vez. Ficam aqui meus agradecimentos a ele. E fica aqui minha dica pra quem nunca fez academia no Rio: é um pouquinho diferente.

preconceito politicamente correto

As pessoas que lutam contra o preconceito nunca estão realmente lutando contra “o preconceito”, mas apenas contra alguns – os que são tachados como tal quando é conveniente. Existem preconceitos que são completamente aceitáveis, justificáveis e tão naturais que nenhum desses ativistas da paz sequer se dá conta que está exatamente do mesmo lado de seus alvos de crítica.

Intolerância é uma palavrinha que eles adoram usar. Mas eles mesmos são intolerantes com “os intolerantes”. Logo, a intolerância em si não pode ser ruim, assim como “o preconceito” ou outra abstração qualquer. Dependendo do alvo tudo se justifica. Mas quais são os alvos politicamente corretos e quais são os incorretos e por quê?

Se um deputado diz que não gostaria de ter um filho homossexual ele é automaticamente tachado de homofóbico. Se meu amigo gay diz que se seu filho virasse evangélico ele o espancaria, ele é.. normal. Se você fala mal de socialistas, você é uma pessoa ruim. Se você fala mal de capitalistas, você é uma pessoa boa. Se Rachel Sheherazade diz que é compreensível amarrar um criminoso a um poste, ela é fascista. Se Paulo Ghiraldelli, professor universitário, faz votos públicos para que Rachel Sheherazade seja estuprada, é irrelevante. Existe uma concepção geral dos preconceitos aceitáveis e dos inaceitáveis. Vou chamar as características não passíveis de sofrer discriminação de características A, e as passíveis de B.

Preconceitos poticamente incorretos (A):

– Contra negros

– Contra homossexuais

– Contra mulheres

– Contra ateus

– Contra espiritualistas

– Contra analfabetos ou semi-analfabetos

– Contra comunistas

– Contra pobres

– Contra putas

 

Preconceitos politicamente corretos (B):

– Contra brancos, asiáticos, índios

– Contra evangélicos

– Contra homens

– Contra capitalistas

– Contra conservadores

– Contra ricos

– Contra alfabetos

– Contra militares

– Contra policiais

– Contra virgens

 

No geral, essa lista funciona, mas sob o viés político podem haver muitas exceções. Se você é de direita e possui uma característica do lado A e do lado B, a do lado B se sobrepõe sempre. Se você é de esquerda, o contrário. Por exemplo, Sheherazade é mulher e conservadora, logo qualquer discriminação contra ela não tem valor, pois é uma discriminação politicamente correta. Ser conservadora se sobrepõe ao fato de ser mulher.

Joaquim Barbosa também é outro ótimo exemplo. Ele é negro, mas é de direita, logo tudo bem também sofrer discriminação, mesmo que seja focado na sua característica em A. Quando petistas o chamaram de “capitão do mato”, não teve qualquer relevância como racismo. Isso, pois ser de direita se sobrepõe ao fato dele ser negro. Para ambos os casos, nunca vi ninguém do movimento feminista defendendo Sheherazade ou do movimento negro defendendo Joaquim Barbosa.

Por outro lado, se você é de esquerda, não pode sofrer nenhum tipo de repressão porque se tranforma automaticamente em um preconceito contra alguma característica lado A. Por exemplo, se eu falo que o Jean Wyllys é um merda, automaticamente sou tachada de homofóbica, mesmo que a minha opinião não tenha nada a ver com as práticas anais do deputado.

Podemos concluir, portanto, que as pessoas que “lutam contra o preconceito”, não lutam contra a abstração “preconceito” e muito menos contra alguns preconceitos, já que para isso precisaria existir em seu julgamento algo chamado coerência. Essas pessoas lutam apenas contra outras pessoas, usando a desculpa ideal: a intolerância. Todo mundo é intolerante com alguma coisa, basta saber se a sua está na lista que pode ou na lista que não pode dentro das exceções cabíveis.

Hoje eu conheci Vanessa

Hoje eu conheci Vanessa. Vanessa se sentou do meu lado no ônibus. Vanessa se sentou do meu lado no ônibus durante 2h30 enquanto falava ao telefone. Vanessa ligou para Dona Telma, sua sogra. Dona Telma e Vanessa não conseguem aceitar o relacionamento.da sobrinha de outra velha, a Dona Esmeralda. Segundo, Vanessa, a sobrinha (Cidinha) é fogo de palha pois ninguém de 40 anos se apaixona em três meses e quer casar. Vanessa acha que Dona Esmeralda devia dar uma surra em Cidinha. A ligação com Dona Telma caiu, Vanessa aproveitou e ligou pro seu namorado, o filho de Dona Telma. Vanessa chama seu namorado de “minha vida“. Vanessa e seu namorado não vão viajar nesse carnaval, eles estão tentando comprar um eletrodoméstico em 10x. Vanessa sugeriu que ela e seu namorado fizessem “amorzinho gostoso“ hoje à noite. Ela falou isso num tom mais baixo, mas eu ouvi. Adorei te conhecer, Vanessa! Você é dez!